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ANOTAÇÕES SOBRE HISTÓRICO DE SANTA MARIA

 

Apresentamos algumas breves informações sobre o contexto histórico de Santa Maria, as quais julgamos interessantes para ambientação deste estudo em específico, não pretendendo discorrer sobre sua totalidade[1].

Localizado a 292 Km de Porto Alegre, o município de Santa Maria situa-se na chamada “Depressão Central” do estado, tendo sido elevado a tal categoria em 1858. A região foi palco de intensa disputa territorial no decorrer do processo de demarcação de limites da América Latina, no qual as Coroas Portuguesa e Espanhola procuravam garantir os limites das terras compartilhadas em tratados do final do século XVIII. Assim, assentaram-se significativos acampamentos militares, bem como pequenos aglomerados que buscavam subsidiar este modus operandi, que caracterizaram um modus vivendi cujos traços ainda podem ser sentidos, nestes termos.

A história de Santa Maria está alicerçada em bases militares e também religiosas, desde sua formação até seu enquadramento na categoria de município. Observando as Atas de Fundação da Câmara de Vereadores de Santa Maria, disponíveis no Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria, é notória a inclinação da tradição simbólica cristã em permear as instâncias estritamente políticas, fazendo com que o ritual inaugural, bem como o posterior desenvolvimento protocolar da casa, parecesse mais litúrgico do que formal. “o Vereador Prezidente deferio o Juramento dos Santos Evangelhos na forma da Lei cujo termo se lavrou em um Livro”[2].

Porém a incursão religiosa a qual os edis precipitaram logo na inauguração da casa extrapola este item, sendo, com exceção a uma minúscula referência ao então Presidente da Província, o único cais legitimador-político da casa e seus novos edis.

Também não é segredo que a influência da religiosidade inspirasse os modelos arquétipos da autenticidade, da formalidade e da autoridade legal e política. E isto é válido para o caso específico desta Câmara bem como da história do município como um todo.

Tanto a insipiência burocrática quanto as das reais demandas da população, são frutos da superposição da Igreja Católica ao “vazio” administrativo-institucional ao qual se encontravam distritos e vilarejos brasileiros, alheios ainda à profissionalização de políticos nos paços municipais. (MOREIRA, 2013)[3]

 

Ainda hoje a cidade é reconhecida como um lugar de intensas peregrinações e atividades religiosas. As Romarias Estaduais de Nossa Senhora Medianeira que rumam todos os anos, no segundo domingo de novembro, ao Santuário-Basílica que leva o nome da padroeira[4], são as maiores do interior do estado e atraem atualmente centenas de milhares de fiéis. Atualmente conta com atenção especial da mídia regional impressa, sendo transmitida ao vivo por mídia radiofônica citadina e televisiva nacional do nicho católico[5].

A atividade ferroviária merece especial atenção no desenvolvimento do município, tendo ela transformado consideravelmente a cidade e o modo de vida dos seus habitantes.

A estação férrea de Santa Maria, construída em terreno doado pelo Coronel Ernesto Beck, foi inaugurada em 13 de outubro de 1885[6] pela E. F. Porto Alegre-Uruguaiana, uma empresa federal criada em 1883 e que inicialmente interligava Cachoeira do Sul (então Cachoeira) a Amarópolis (então Santo Amaro). Vinte anos após este contato férreo, a população quintuplicou. Porém a conexão entre as cidades projetadas na própria alcunha da empresa, ligando a capital ao extremo Oeste do estado gaúcho, só foi integralmente concretizada em 1911. Ao longo de sua história, a linha fora administrada por diferentes iniciativas[7].

A instalação da estação férrea e as atividades daí geradas redesenharam a constituição e o desenvolvimento econômico e social da cidade de Santa Maria, de tal maneira que a mesma foi por muito tempo conhecida por “Cidade Ferroviária”. Não obstante, o complexo ferroviário santa-mariense configurou o mais importante da região central, tanto pela ampla capacidade de lotação, quanto pela posição geograficamente estratégica às demandas logísticas.

Os ferroviários deixaram um imenso legado cultural, fruto do seu sólido caráter associativo frente a Cooperativa dos Empregados da V.F.R.G.S. Ltda. Através de pesados investimentos, iniciativas como a construção da Escola de Artes e Ofícios - finalizada em 1922 e que passou a se chamar Escola Industrial Hugo Taylor em 1943 -, dentre outras afirmações na primeira metade do século XX, viabilizaram as circunstâncias necessárias para o fomento da propalada inclinação de Santa Maria à sediar estruturas e projetos de desenvolvimento educacional.

A estação férrea, porém, foi desativada em 1996 deixando para trás o transporte de passageiros que culminou no abando de seu patrimônio, como parte do sucateamento e desmantelamento da estrutura ferroviária a nível nacional, que se acelerou desde a década de 1980[8].

Além do patrimônio material da GARE há outros que estão diretamente vinculados a atividade ferroviária que também são reconhecidos pela comunidade santa-mariense, como a Vila Belga e a Escola Manoel Ribas. Portanto, a história da cidade está atrelada substancialmente a esta conjuntura, tanto no campo socioeconômico quanto no político, educacional e artístico.

Apesar de ser um “centro religioso” e militar, o que de certo modo pincela-a de um tom tradicional, a cidade comporta um projeto de desenvolvimento de um polo científico, a UFSM (COELHO, 1996).

O perfil dos estudantes universitários, secundaristas e tecnólogos, sua participação no consumo de um cenário econômico focado no comércio e no ramo de serviços, contribuem para a caracterização de Santa Maria pela mídia enquanto “cidade cultura”.

A partir destes atributos, a cidade é atualmente a referência em atividade educacional e assistência hospitalar na Região Central. Não obstante, a UFSM divulgou em 2013 o número de 28.677 estudantes, 1.853 docentes e 2.823 Técnico-Administrativos em Educação. Além desta, a cidade comporta as seguintes Instituições de Ensino Superior particulares: Centro Universitário Franciscano – UNIFRA; Faculdade de Direito de Santa Maria – FADISMA; Faculdade Interativa – COC; Faculdade Integrada de Santa Maria – FISMA; Faculdade Metodista de Santa Maria – FAMES; Faculdade Palotina de Santa Maria – FAPAS; Universidade Luterana do Brasil – ULBRA; além de alguns ainda incipientes polos de ensino a distância.

 Santa Maria é o quinto município mais populoso do Estado do Rio Grande do Sul e possui o segundo maior contingente militar do país, confira a recente evolução populacional.

Tabela 1 - Evolução Populacional

Evolução Populacional

Ano

Santa Maria

Rio Grande do Sul

Brasil

1991

217.592

9.138.670

146.825.475

1996

231.638

9.568.523

156.032.944

2000

243.611

10.187.798

169.799.170

2007

263.403

10.582.840

183.987.291

2010

261.031

10.693.929

190.755.799

 

Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA: Evolução Populacional Censo. Demográfico 1991, Contagem Populacional 1996, Censo Demográfico 2000, Contagem Populacional 2007 e Censo Demográfico 2010.

 

Porém, os setores produtivos estão bastante aquém da expectativa que possa ser gerada, dada a sua relevância demográfica e o seguro aporte financeiro oriundo dos recursos federais aplicados no orçamento da universidade e nos gastos militares. Contabilizando em 2009 um Produto Interno Bruto – PIB de R$ 3,4 bilhões[9], Santa Maria ocupa a 10° posição na economia gaúcha.

 

 

 

[1] Ver mais sobre as origens indígenas e missioneiras de Santa Maria (Redução Jesuítica São Cosme e São Damião) em: QUEVEDO, Júlio. As Origens Missioneiras de Santa Maria. Estudios Historicos. Nº 1. CDHRP. 2009. Disponível em: <http://www.estudioshistoricos.org/edicion_1/julio-quevedo.pdf> Acessado em 02/12/2013.

 

[2] MOREIRA, Lucas Loch; KONRAD, Gláucia Vieira Ramos. Cristianismo legitimador na Boca do Monte. Santa Maria, Jornal A Razão, 05 ago. 2013, p. 4.

 

[3]  MOREIRA, Ibidem.

 

[4]  Em 2011 a Diocese de Santa Maria foi elevada a categoria de Arquidiocese.

 

[5]  Destacam-se a Rádio Imembuí e a Rádio Medianeira, que fora fundada em 1960 pela Diocese de Santa Maria. Desde o final dos anos 1990, a romaria também é coberta pela Rede Vida de Televisão.

Ver mais em: BORELLI, Viviane. A história midiática da Romaria da Medianeira: dos meios impressos e radiofônicos à cobertura ao vivo pela televisão. Disponível em: <http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/e/e3/GT9-_16-_A_historia_midiatica-_Viviane.pdf>. Acessado em 10/12/2013.

 

[6]  A plataforma coberta de embarque e desembarque de passageiros só foi construída em no início da década de 1920.

 

[7]  E. F. Porto Alegre a Uruguaiana de 1883 a 1898, Cie. Auxiliaire des Chemins de Fer au Brésil entre 1898 e 1920 e V. F. Rio Grande do Sul de 1920 a 1962.

 

[8] Apesar da incapacidade técnica, falta de salubridade e dos riscos que o local carrega em si, existem iniciativas públicas e populares de revitalização e reutilização do espaço. Como são os casos do Brique da Estação, Ateliê da Estação, dentre outros eventos que atualmente movimentam o espaço.

 

[9] IBGE, Tabela 1 - Produto Interno Bruto a preços correntes e Produto Interno Bruto per capita

segundo as Grandes Regiões, as Unidades da Federação e os municípios - 2005-2009. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pibmunicipios/2005_2009/tabelas_ pdf/tab01.pdf Acessado em 10/12/2013.

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